Segundo a Organização Mundial da Saúde, estamos cada vez
mais sendentários. A boa notícia é que toda forma de exercício ajuda a
minimizar esse quadro.
Nem toda hora é de estica, pula e corre. Às vezes, porque estamos num momento
mais introspectivo da vida, ou por opção, uma questão de gosto pessoal, o ritmo
de atividade física precisa ser mais suave.
Ninguém discorda de que é necessário se mexer. O corpo precisa e a cabeça, você sabe bem, só tem a agradecer. Mas
quando nadar, correr, lutar caratê ou jogar tênis está longe de seu ideal de
treino, você pode dar um tempo exercitando o corpo de uma maneira que ainda não
tentou. Por exemplo, por meio do pilates. Ou algo inusitado como a técnica de
Alexander, o método Feldenkrais ou até mesmo o rolfing que você vai conhecer a
seguir. Surpresa com a sugestão? Pois especialistas, sem preconceito algum,
garantem que toda forma de movimento vale a pena.
"Sempre podemos variar as fontes
para o aprendizado do corpo. O importante é que cada pessoa encontre o método
com o qual se identifica. Para não parar logo depois do primeiro mês",
diz a fisioterapeuta Gerseli Angeli Silva, coordenadora do Centro de Medicina
da Atividade Física e do Esporte de SP.
Os métodos citados visam aumentar a consciência corporal. E qualquer técnica
que faça isso, bem orientada por um profissional, melhora a aptidão física - a
capacidade de realizar um trabalho muscular de maneira satisfatória. Qualidade
fundamental para enfrentar os dias de hoje. Essas práticas estimulam a
consciência corporal, alongam e, com exceção do rolfing, fortalecem a
musculatura. Todas buscam o bem-estar geral (físico, mental e emocional) e, de
quebra, contribuem para uma boa postura, o que resulta em um corpo mais bonito
e elegante.
1. Foco no alinhamento
De todas as práticas, o pilates é a que oferece maior possibilidade de
sobrecarga - um estímulo superior para que a atividade física continue fazendo
efeito no decorrer do tempo. "Chega um momento em que os demais métodos
mantêm a pessoa alongada, mas não mais despertam o condicionamento físico (por
isso, torna-se necessário acrescentar algo como musculação, caminhada ou pedalada)",
afirma a fisioterapeuta Gerseli Angeli. O pilates, no entanto, exige uma
adaptação constante, graças ao uso de aparelhos e equipamentos apropriados. A
arte do controle do corpo e do movimento, como definiu o alemão Joseph Hubertus
Pilates (1880-1967), idealizador do método, conduz o praticante a um
alinhamento perfeito. Dá maior destreza, estabilidade, resistência e força,
especialmente abdominal.
2. Acesso aos
bloqueios
Cabeça caída, ombros tortos, peito retraído... Se o jeito como você se coloca
na vida está inadequado, é preciso voltar ao eixo. A Integração estrutural ou
rolfing, como é mais conhecida a técnica criada pela bioquímica americana Ida
Rolf (1896-1979), revisa todo o corpo e o coloca em melhores condições para
enfrentar a força da gravidade. Difundida a partir da década de 1960, ela foca
no alongamento acima de tudo. Por isso, algumas pessoas sentem muita dor. E
outras adoram - já que há um efeito relaxante no final. Por meio da manipulação
do corpo do paciente, a terapeuta libera tensões da fáscia - tecido conectivo
que envolve as células, os ossos e as fibras musculares. "Pressionando de
forma adequada é possível acessar bloqueios que estejam inibindo a qualidade do
movimento", afirma Eliana Ribeiro Grotti, rolfista e fisioterapeura do
Centro de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein. O melhor é que,
ao colocar o corpo em bases mais estáveis, o efeito dessa prática transborda
para o lado emocional. Nossas atitudes também ficam mais firmes.
3. Atenção plena
O método Feldenkrais se divide em duas modalidades: uma de atendimento
individual, em que o instrutor conduz o aluno pelo toque; e outra, mais ativa,
se destaca pela prática em grupo. "Neste segundo exemplo, o foco é a
consciência pelo movimento. Por isso, as sequências são feitas bem devagar e em
sessões de, no máximo, 50 minutos, que é o tempo máximo que conseguimos prestar
atenção em uma aula", explica a professora paulista Mariana Huck. Tudo é
bem metódico. Pode haver uma sequência de movimentos de bruços, de costas,
rolando, sentada, em pé ou em posturas invertidas, como na ioga. Enquanto o
aluno executa uma ordem, é convidado a perceber como está a respiração, se o
peso está maior sobre o quadril direito ou esquerdo e como se comporta o
restante do corpo. No final da aula, qualquer que seja ela, a sensação é de
vitalidade. A amplitude do gesto aumenta da mesma forma que o conforto em sua
execução. Na mesma proporção, o risco de dores e lesões diminui.
4. Somente o necessário
Desenvolvido pelo ator australiano Frederick Matthias Alexander (1869-1955) há
mais de 100 anos, o método Alexander foi concebido para evitar as tensões
desnecessárias. Quando você se senta, por exemplo, tende a puxar a cabeça para
trás e para baixo? Errado. Numa aula da técnica, o professor não só orienta
verbalmente como você deve se sentar, como conduz seu corpo ao movimento
correto lembrando que os pés ficam apoiados no chão, os joelhos dobram e a
cabeça simplesmente acompanha o trabalho. Da mesma forma, corrige a má postura
durante uma ligação telefônica ou a de um músico que segura incorretamente o
instrumento. Nas aulas, de 30 a 40 minutos, o aluno é ativo o tempo todo:
andando, deitando, sentando, ou desempenhando atividades cotidianas. Com o
tempo, a musculatura aprende a fazer seu papel. "É isso que proporciona um
tônus apropriado - seja para alongar, seja para contrair", explica o
professor Reinaldo Renzo, de São Paulo. Quando contraímos muito a musculatura,
uma consequência natural é diminuir o espaço entre as articulações. Encolhemos
mesmo, o que provoca dores e se reflete até na respiração, que poderia oxigenar
melhor todo o sistema, se estivesse mais livre. "O método oferece a
oportunidade de parar de fazer o desnecessário para que o necessário aconteça
de forma desimpedida. Até a ansiedade diminui porque você está mais atento e,
portanto, tem a chance de escolher de que forma quer responder a um estímulo
estressante", afirma Renzo.