Pesquisa revela as áreas específicas do cérebro
associadas ao intelecto humano
Um
estudo divulgado na última semana pela Universidade de Illinois (EUA) forneceu
dados importantes para a compreensão das bases neurológicas da inteligência. O
trabalho mapeou onde exatamente é processado o chamado fator de inteligência
geral. A variável foi estabelecida em 1924 pelo psicólogo inglês Charles
Spearman e é usada para medir a inteligência global, definida como a habilidade
de processar as informações agregadas à execução das capacidades humanas, como
a memória e a linguagem.
Segundo
a pesquisa, ela é processada em um circuito específico do cérebro: córtex
pré-frontal esquerdo (atrás da cabeça), córtex temporal esquerdo (atrás da
orelha) e córtex parietal esquerdo (no topo da parte de trás da cabeça). Essas
áreas são acionadas mesmo quando outras, mais associadas à execução de
determinada função, estão lesadas. Isso pode ser constatado porque o trabalho
foi feito com imagens do cérebro de 182 veteranos de guerra portadores de danos
cerebrais em áreas distintas (fala e memória, por exemplo).
A
partir de estímulos, constatou-se que, mesmo com esses circuitos mais
“executivos” desativados, as áreas agora identificadas foram acionadas,
demonstrando que o cérebro continuava tentando processar de um ponto de vista
mais abstrato informações correspondentes às duas funções. Era a inteligência
global em ação. “Em algumas áreas, ela é processada de maneira isolada,
independentemente do que está ou não sendo realizado”, disse à ISTOÉ Aron
Barbey, um dos autores do estudo. O experimento revelou ainda que, em algumas
regiões, há o processamento da inteligência e do controle de impulsos,
revelando uma interdependência entre as capacidades.
O
estudo corroborou e trouxe um avanço em relação à Teoria da Integração
Fronto-Parietal, tese segundo a qual a inteligência se dá em várias áreas do
cérebro e não somente nos lobos frontais, como se acreditava. “Comprovamos essa
teoria e mostramos ainda que a inteligência global também depende do controle
do comportamento em alguns casos”, diz Aron Barbey.
Para
cientistas brasileiros, o estudo ajuda a entender a associação entre a
capacidade de raciocínio e o comportamento. “A prática clínica mostra que
lesões no córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio, resultam em mudanças
comportamentais”, explica o neuropsicólogo Jonas Jardim de Paula, da
Universidade Federal de Minas Gerais. Por essa razão, espera-se que as
informações ajudem, por exemplo, no tratamento de doenças que prejudicam
funções cerebrais e o raciocínio. Com o estímulo certo, os danos ao intelecto
poderiam ser atenuados.
Monique Oliveira
Revista Isto É
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